Almargem, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e ERTA “tiraram o pulso” à observação de aves no Algarve e apostam no crescimento do turismo de natureza
No longínquo ano de 1969, John Cleese e Michael Palin, dupla integrante dos históricos Monty Python, apresentaram ao mundo um dos seus mais memoráveis sketches.
Em “Dead Parrot”, a personagem interpretada por Cleese entra numa loja de animais com a intenção de devolver o exemplar que ali adquiriu da espécie “norwegian blue”, ou “norueguês azul”, alegando que este teria sido adquirido já sem vida. Segue-se então uma discussão entre Cleese e o dono da loja, interpretado por Palin, em que cada um apresenta uma visão diferente sobre o estado vital do dito pássaro.
Não sendo necessária a presença de um observador de aves para perceber o estado finado do “norwegian blue” em questão, dono de uma “lindíssima plumagem”, a verdade é que o “birdwatching” é já uma actividade de turismo de natureza bem cimentada no panorama internacional.
Um pouco por todo o mundo, cerca de 100 milhões de pessoas dedicam o seu tempo livre a observar aves. Este número, surpreendente para a grande maioria dos leigos na matéria, não será novidade para João Ministro, presidente da Almargem, e Alexandra Lopes, Coordenadora de Educação e Actividades da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), eles que apresentaram na passada quinta-feira no Hotel Vila Galé Albacora, em Tavira, um estudo sobre a situação actual do “birwatching” no Algarve, criado com o apoio da Entidade Regional de Turismo do Algarve (ERTA).
Gerando um impacto financeiro na economia norte-americana a rondar os 82 milhões de dólares por ano, associados à criação de 670 mil postos de trabalho, esta actividade começa agora a dar os primeiros passos na região algarvia.
Em “Birdwatching no Algarve”, as duas entidades levaram a cabo uma prospecção no terreno, tendo visitado cerca de trinta localizações na região, identificando os aspectos positivos e as carências de cada local tendo em conta a prática do “birdwatching”.
Nuno Aires, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, presente na cerimónia, revelou aos presentes o seu desconhecimento inicial sobre os meandros desta actividade: “há um ano atrás não conhecia as potencialidades do Algarve para esta actividade”, revelou o responsável, considerando no entanto que “o futuro passará por reconhecer estes subprodutos, como o “birdwatching”, o turismo náutico e o turismo interior”, declarou.
No estudo apresentado, a Almargem e a SPEA definiram dois tipos de zonas para a observação de aves: os “Hotspots” e as “Complementares”, sendo que na primeira categoria o estudo inclui cinco localizações específicas, consideradas perfeitas para o desenvolvimento desta actividade, nomeadamente Castro Marim, Ria Formosa, Lagoa dos Salgados, Península de Sagres e a Serra do Caldeirão.
Para aproveitar o potencial destas localizações, propõe-se, entre outros pontos, a implementação de um plano de formação dirigido aos guias e aos operadores, tal como a criação de um estudo de mercado que inclua os números da procura, da oferta e o perfil dos observadores que visitam o Algarve. Este e outros elementos deverão ainda ser complementados com a criação de uma imagem de marca e a elaboração de um guia multilingue.
Apostando em 2010 como o ano da consolidação desta oferta, os responsáveis pelo estudo e a ERTA, pela voz de Almeida Pires, prevêem ainda a participação em feiras e eventos da especialidade, no sentido de divulgar o produto a mercados como o Reino Unidos, Alemanha, Holanda e França. Esta ideia foi também confirmada pelo presidente da ERTA aos jornalistas: “a feira internacional mais importante decorre em Londres e realiza-se no princípio do Verão, portanto nessa altura já queremos ter produto para apresentar”, afirmou Nuno Aires.
Para além da participação em festivais internacionais, as autoridades têm ainda o objectivo de realizar um “Festival de Aves do Algarve”, evento potencialmente integrado no Festival Europeu de Observação de Aves.
Considerado por Anabela Lopes um “recurso amplo mas não inesgotável”, no “birdwatching” podia colocar-se o problema da sobreexploração dos recursos existentes, situação afastada por João Ministro ao Região Sul: “Por si só este já é um segmento que está relativamente enquadrado nas próprias preocupações ambientais, e por isso mesmo não nos preocupa muito”, afirmou o responsável da Almargem.
Em relação aos benefícios económicos que os algarvios possam vir a colher desta actividade, Nuno Aires mostrou-se confiante no futuro: “o impacto económico não é fácil de medir nesta fase. Aquilo que sabemos é que, para já, em termos de procura há aqui um grande potencial”.
Ainda na quinta-feira, foi também apresentado o projecto do Parque de Natureza de Tavira, que prevê, entre outras estruturas, a reconversão de duas lagoas de uma ETAR em desactivação para acolher estruturas para a observação de aves.
Fonte: Região Sul
http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=99622#
Imagem:
http://panodajangada.files.wordpress.com/2009/08/birdwatching2tu9.jpg - Fotografia de criança a olhar por binóculos
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Pedro Abrantes (NAMB)
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